15 de setembro de 2025

DESPERTAR

Acordei com a estranha sensação de que o quarto estava mais vazio do que o normal. Estiquei a mão para o lado da cama, tateando como se buscasse uma lembrança esquecida, mas só encontrei o lençol frio. Suspirei, sentindo a ausência.

O silêncio do meu apartamento foi quebrado pelo barulho de um liquidificador. Devia ser um dos vizinhos preparando o café da manhã. Levantei e caminhei em direção à cozinha, desviando da cadeira que insiste em ficar fora do lugar. De repente, senti o cheiro de café no ar, estranhei, não lembrava de ter comprado café. "Será que ainda estou sonhando?", refleti sozinho.

De repente, a sensação de que poderia ser alguém que eu não conseguia me lembrar de ter dormido aqui. Comecei a rir sozinho do pensamento: "Se for um ladrão, que em vez de me roubar veio me preparar um café, tomara que seja menos aguado". Desisti de ir verificar o intruso, pois estava mais apertado para ir ao banheiro, segui pelo corredor até alcançar a porta, entrei e me entreguei ao alívio da minha bexiga.

A propósito, desculpem a falta de formalidade. Me chamo Rubén Vargas, sou cronista de um jornal de circulação mediana (mas de grande pretensão, diga-se de passagem), então fiquem à vontade para continuar a seguir o meu relato.

Depois de terminar o que tinha feito antes da minha indelicadeza, lavei as mãos, passei-as pelo meu rosto velho. A pele áspera pela barba por fazer (leia-se, barba de anos de descuido e sem vontade de fazer). Senti que o tempo passou muito rápido desde que completei 18 anos. A lembrança da primeira vez que um pelo nasceu no meu rosto, fiquei radiante. Era como se a criança estivesse ficando para trás e o adulto estivesse chegando.

Depois desse devaneio, voltei para a cozinha. Ao chegar lá, o cheiro de café ainda estava no ar, mas o barulho ensurdecedor do liquidificador não. O silêncio que sobrou parecia mais denso do que antes, sentia o cheiro doce da bebida, misturado ao calor que vinha da janela e foi quando a decepção chegou, fria como a pia de mármore que tateei. Nenhum bule, nenhuma xícara, nada além do eco dos meus próprios pensamentos, não havia café. Era o vizinho, aquele vizinho barulhento que batia alguma coisa no liquidificador.

Com a sensação de um sonho desfeito, voltei para o quarto. Troquei o pijama por uma calça e uma camisa, calcei os tênis e desci. O dia lá fora já tinha um cheiro de fumaça de carros, na padaria, a vida continuaria, e talvez ali, no meio do barulho e das pessoas, o silêncio do meu apartamento não parecesse tão pesado, me fazendo sentirsse melhor saindo daquele apartamento vazio.

3 comentários:

  1. Los sueños pueden ser bocetos de novelas, o ilusiones perdidas.
    Y aun soñando te has puesto el pijama, un pantalon y una camisa,, frío no vas a pasar.

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  2. Belo conto. Me identifiquei com tudo que você escreveu. Parece nosso amanhecer e dia a dia.

    Boa semana!

    O JOVEM JORNALISTA está no ar cheio de posts novos e novidades! Não deixe de conferir!

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    Até mais, Emerson Garcia

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