25 de setembro de 2025

UM SORRISO AMBÍGUO

Na hora do almoço, peço uma marmitex pequena, pois estou com pouca fome. Nela, vêm arroz branco, feijão, filé de merluza ao molho, purê de batata, farofa e um potinho de salada de tabule. Me sinto como um príncipe, sentado na mesa do escritório. Para descer toda essa deliciosa comida, nada melhor que uma Coca-Cola estupidamente gelada. Enquanto me alimento, escuto os passos das pessoas que caminham na calçada e os carros e motos que transitam pela avenida. De vez em quando, o som de uma sirene — ora da ambulância, ora da polícia, ora do bombeiro — me lembra da normalidade desse cotidiano.

Após a refeição, com a barriga pesada por ter raspado até o último grão de arroz, me levanto e caminho até o lixo para deixar a embalagem da marmitex. Quando me aproximo do local, ouço algumas risadas vindas do corredor: era a Genecilde — para os íntimos ou não, a Gene —, a chefe da redação. Ela ria de um jeito que me gelou a espinha. Não era uma risada de felicidade, mas sim aquela risada curta e fria que se esconde atrás da mão, como se tivesse presenciado a queda de alguém ou tivesse acabado de tramar algo ruim. Meu corpo, por um momento, quis recuar, mas meus ouvidos me disseram para seguir em frente.

Com a cabeça ainda na Gene, caminho de volta para minha mesa. Penso no quanto o cotidiano, com seus sons e cheiros, me une ao mundo. Sento-me de volta à minha mesa, com cuidado para não esbarrar em nada. Meus dedos correm pelas teclas do computador, um gesto tão automático que mal preciso pensar.

Tenho uma crônica para finalizar, e a risada de Gene, somada ao som da sirene, ecoa em minha mente. Decido escrever sobre a crueldade do cotidiano, de como a vida na cidade pode expor o que há de pior nas pessoas. Quando ouvi a risada de Gene, imaginei um sorriso de satisfação. Não consegui compreender se era por ela ter visto o estagiário cometer um erro grave, ou se ela fez uma maldade com alguém e agora está colhendo os frutos. Não sei, mas minha imaginação, aguçada pela minha profissão, tece cenários cada vez mais sombrios.

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