Na hora do almoço, peço uma marmitex pequena, pois estou com pouca fome. Nela, vêm arroz branco, feijão, filé de merluza ao molho, purê de batata, farofa e um potinho de salada de tabule. Me sinto como um príncipe, sentado na mesa do escritório. Para descer toda essa deliciosa comida, nada melhor que uma Coca-Cola estupidamente gelada. Enquanto me alimento, escuto os passos das pessoas que caminham na calçada e os carros e motos que transitam pela avenida. De vez em quando, o som de uma sirene — ora da ambulância, ora da polícia, ora do bombeiro — me lembra da normalidade desse cotidiano.
Após a refeição, com a barriga pesada por ter raspado até o último grão de arroz, me levanto e caminho até o lixo para deixar a embalagem da marmitex. Quando me aproximo do local, ouço algumas risadas vindas do corredor: era a Genecilde — para os íntimos ou não, a Gene —, a chefe da redação. Ela ria de um jeito que me gelou a espinha. Não era uma risada de felicidade, mas sim aquela risada curta e fria que se esconde atrás da mão, como se tivesse presenciado a queda de alguém ou tivesse acabado de tramar algo ruim. Meu corpo, por um momento, quis recuar, mas meus ouvidos me disseram para seguir em frente.
Com a cabeça ainda na Gene, caminho de volta para minha mesa. Penso no quanto o cotidiano, com seus sons e cheiros, me une ao mundo. Sento-me de volta à minha mesa, com cuidado para não esbarrar em nada. Meus dedos correm pelas teclas do computador, um gesto tão automático que mal preciso pensar.
Tenho uma crônica para finalizar, e a risada de Gene, somada ao som da sirene, ecoa em minha mente. Decido escrever sobre a crueldade do cotidiano, de como a vida na cidade pode expor o que há de pior nas pessoas. Quando ouvi a risada de Gene, imaginei um sorriso de satisfação. Não consegui compreender se era por ela ter visto o estagiário cometer um erro grave, ou se ela fez uma maldade com alguém e agora está colhendo os frutos. Não sei, mas minha imaginação, aguçada pela minha profissão, tece cenários cada vez mais sombrios.
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