7 de abril de 2025

A TRAIÇÃO


A mesa do bar era a mesma de sempre, assim como a cerveja suada no porta garrafas e os copos americanos meio sujos de tantas rodadas. Raul, o mais velho do grupo, olhava pro nada. Rogério e Reinaldo, os mais novos, conversavam aleatoriamente, enquanto José, mais calado que o habitual, tragava o cigarro com a concentração de quem escondia alguma coisa.
A noite corria solta quando José, de repente, olhou pros lados, deu mais um trago, soltou a fumaça devagar e sem cerimônia, anunciou:

— Eu casei.

O bar ficou em silêncio. Não porque alguém tivesse ouvido, mas porque, justamente naquele instante, a música deu uma pausa. Raul franziu a testa. Rogério engasgou com a cerveja. Reinaldo olhou pro amigo como se tivesse ouvido que ele virou monge budista.

— Como assim, Zé? — Raul foi o primeiro a reagir.

— Casei no cartório.

O impacto da frase reverberou na mesa. O silêncio durou dois segundos, e então veio o bombardeio.
— Você casou como, Zé? — Rogério arregalou os olhos.

 — Quando? — Reinaldo se ajeitou na cadeira.

 — Por que a gente não foi chamado? — Raul pegou o copo e virou a cerveja como se tentasse engolir aquela informação.

José, sereno, pegou seu copo e deu um gole antes de responder:

— Foi no sábado de Carnaval.

— Sábado de Carnaval?! — Raul quase derrubou a cerveja. — E a gente aqui, achando que você estava só ocupado com outros afazeres!
José deu de ombros.

— E a gente? — Rogério insistiu. — A gente é o quê pra você, Zé? Desconhecido? Colega de bar?

— Não é nada disso… — José tentou argumentar, mas Raul já estava indignado.

— Pô, eu achava que seria padrinho de pelo menos um de vocês! O Reinaldo eu já sabia que não ia casar, o Rogério é um caso perdido, mas você… Você, José!

— Casou onde? Como? — Raul exigia respostas, apontando com o copo.

— No cartório, ué. Com a Priscila, oras.

— Priscila?! — Rogério e Reinaldo falaram juntos.

Era informação demais. Priscila, namorada de José há um tempo, mas nada que indicasse casamento. Pelo menos, não em um sábado de Carnaval.
José, percebendo que não teria paz tão cedo, soltou um suspiro.

— Foi coisa nossa, simples. A gente já tava junto faz tempo, só resolvemos oficializar.

— Mas sem festa? Sem churrasco? Sem a gente? — Rogério parecia inconformado.

— Nem os meus pais, eu chamei.

Os três amigos se entreolharam. Não podiam negar que, se tivessem sido convidados, teria sido uma semana inteira de comemoração. Rogério provavelmente teria encomendado um trio elétrico.
O silêncio voltou à mesa por um instante. O garçom apareceu para repor a cerveja, e Raul, ainda com um ar de indignação, serviu os copos.

— Então agora você é um homem casado… — disse Reinaldo, levantando o copo.

José assentiu.

— E você acha que essa desculpa vai te livrar das nossas cervejadas? — Rogério arqueou as sobrancelhas.
José riu.

— Não exagera, Rogério. Casamento é uma coisa, cervejada é outra.
O brinde foi inevitável. A cerveja desceu como sempre e os amigos riam. No fundo, casamento ou não, aquele momento ali era o que realmente importava.

Esta história foi baseada em fatos, personagens reais, porém com um pouco de ficção.

2 comentários:

  1. Que buena idea, basado en una imagen generada por IA escribes una historia a la que nos has invitado. Un abrazo

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  2. Bela e incrível crônica. Parabéns!

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

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