– Deu 170g, pode ser?
– Pode. (Com aquele sorriso sem graça, pois tinha pedido 150g).
Eu pego o pacote de mortadela e dou de ombros. Fiquei sentido, pois o atendente nunca acerta a quantidade solicitada, mas, ainda bem, que o prejuízo não era grande na minha economia.
Caminho pelo supermercado até chegar ao caixa, coloco as compras na esteira e fico de olhos atentos ao visor para ver o valor final. A caixa vira e diz com aquela voz doce:
– Deu R$49,80. Como vai ser a forma de pagamento?
Tiro a carteira do bolso e apresento uma nota de 50 reais, esquecida nos dias atuais pelo uso quase constante do cartão. A atendente abre um sorriso amarelo e volta a falar docemente:
– Posso dar o troco em bala?
Respondo com um "sim", mostrando no rosto uma expressão contrariada, e estendo a mão direita para receber as cinco meras balas, que guardo no bolso. Apanho as sacolas de compras e vou embora.
No caminho para casa, enquanto pensava nesses pequenos incômodos, uma criança me pede algum trocado. Não tenho o hábito de dar dinheiro, mas abro um sorriso e entrego as balas que estavam no bolso. A alegria genuína da criança me fez refletir que o que pode ser um incômodo para mim pode ser algo espetacular para outra pessoa.
Dias depois, estou saindo do mesmo supermercado quando a mesma criança aparece, desta vez junto com uma mulher. Ao me ver, a criança abre um sorriso e diz:
– Olha, mãe, este é o moço que me deu as balas!
Sem graça, apenas balancei a cabeça, segui o meu trajeto, enquanto eu me afastava, senti um leve puxão na barra da minha camiseta, a mulher me olhava com um semblante sério.
— Podemos conversar um instante? — ela perguntou.
Engoli em seco, o que poderia ser? Será que ela achou que eu estava tentando subornar a criança com balas? Ou pior… Será que vendiam aquelas balas adulteradas e agora eu estava encrencado?
Abaixei um pouco a cabeça e acenei afirmativamente, ela olhou para os lados, como se certificando de que ninguém nos observava, e então se aproximou:
— Meu filho me contou que o senhor deu balas para ele, ontem.
— Sim… — respondi, sem saber onde aquilo ia dar.
— Pois então, preciso lhe perguntar uma coisa muito séria.
Minha mente já viajava em todas as direções possíveis.
— Ahn… Claro, pode perguntar… — murmurei.
Ela respirou fundo e soltou:
— Por acaso o senhor tem mais delas?
Travei.
— Como assim?
Ela olhou para os lados de novo, abaixou a voz e completou:
— É que meu filho ficou falando dessas balas o dia inteiro, ele disse que eram as melhores que já comeu, agora ele não quer saber de outra coisa. O senhor sabe onde posso encontrar mais?
Soltei um suspiro aliviado e comecei a rir. De todas as possibilidades que passaram pela minha cabeça, essa eu não esperava.
— Bom… Acho que depende do troco que me derem hoje — brinquei.
A mulher riu, e a criança bateu palmas animada e assim, por conta de um simples erro de caixa, eu me tornava oficialmente um fornecedor clandestino de balas troco de supermercado.
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