O
meu sangue sai na minha urina com angústia
Meus
braços estão inchados de tão podres
O
meu pensante cérebro está com problemas
Rim,
estômago, fígado e olhos não têm recuperação
Tuberculose
maldita que afetou minha jovem vida
Oito
meses de vida assim que vivo vegetativo
Eutanásia
sim, por favor não me deixe sofrer
Ser
mais um morto vivo não quero
Câncer,
vírus, bactéria e AIDS me ataquem
Recebo
injeções pra uma insignificante cura
Impossibilitado
de fazer o meu prazer
Tenho
que aguentar até a minha hora chegar
O
mundo lá fora é igual desde que tinha oito anos
Revoluções
e guerras tudo igual sem nada mudar
As
enfermeiras gostosas não me atentem
Mulheres
feias de bigodes que cuidam de mim
A
minha filha não chora por eu estar em coma
Nicotina,
maconha, LSD e álcool por favor
Diagnóstico
de melhora não vai ter tão cedo
O
sol que entra na janela não me esquenta
Magrelo,
sem dentes e careca é assim que estou
O
som dos pássaros cantando a marcha fúnebre
Relógio
fazendo seu tic tac sempre sem parar
Rebeliões
de presídios são noticias no telejornal
Eu
sou o morto escritor amando morre assim
As
úlceras que me matam aos poucos?
Salada
de frutas quero comer quando for à sobremesa
Sua
calcinha mal lavada me intoxica a mente
Impostos
para pagar e um lugar no cemitério
Meus
amigos nada de lágrimas de remorso
A
mente brilhante que fala pra vocês não é a minha
Seus
ouvidos são depósitos de dejetos anais
Único
amor que senti me machucou o coração
Linda
garota que me traiu com meu próprio irmão
Carta
de despedida escrita com gotas de sangue
Espermatozoides e óvulos se fundindo na proveta
Reles
mortais não riam dessas escrituras
Anseio
um dia chegar à Academia Brasileira de Letras
Sorrir
com falta de dentes me deixa triste
Queijo
fungado do Mar Báltico que me alimento
Um
dia perfeito da vida desgraçada que não vivi
Entidade
comercial da República Dominicana vou me exilar
Miséria
de cada dia do povo brasileiro morando na rua
Excelentes
ricos sorrindo nas capas de revistas
Meretriz
juvenil que vende seu corpo recém desvirginado
Assassinatos
de balas perdidas nas ruas do país tropical
Terapia
de conjuntos de Rock n’ Roll no hospício
A
verdade absoluta me disse uma história
Mil
novecentos e oitenta e seis tu nasceste sem dentes
A
criatura que tu era virou esse morto vivo de hoje
Os
meus testículos são examinados na NASA
Soldado
matando pra ser herói da sua pátria
Pequeno
manguito que cresce dentro da vulva encardida
Orvalho
que escorre das belas flores do jardim hospitalar
Unhas
dos pés são cortadas com a tesoura cirúrgica
Critérios
para escolher palavras pra escrever a poesia
O
minuto que cansa é o que se perde na vontade de viver
Seja
o que tem que ser para tudo acontecer
? Amigos
leiam no meu sepulcro uma bela despedida
Arthur Claro
Essa poesia foi criada demonstrando os últimos momentos de um poeta, não sou eu este poeta, o ponto de interrogação na última linha é de propósito, sinalizando uma pergunta antes de fazer um pedido. A imagem foi retirada do Google.
Uma poesia forte, mas bonita do ponto de vista da morte do poeta...
ResponderExcluirBjus
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