13 de agosto de 2015

AS ÚLCERAS QUE ME MATAM AOS POUCOS?


O meu sangue sai na minha urina com angústia
Meus braços estão inchados de tão podres
O meu pensante cérebro está com problemas
Rim, estômago, fígado e olhos não têm recuperação
Tuberculose maldita que afetou minha jovem vida
Oito meses de vida assim que vivo vegetativo

Eutanásia sim, por favor não me deixe sofrer
Ser mais um morto vivo não quero
Câncer, vírus, bactéria e AIDS me ataquem
Recebo injeções pra uma insignificante cura
Impossibilitado de fazer o meu prazer
Tenho que aguentar até a minha hora chegar

O mundo lá fora é igual desde que tinha oito anos
Revoluções e guerras tudo igual sem nada mudar
As enfermeiras gostosas não me atentem
Mulheres feias de bigodes que cuidam de mim
A minha filha não chora por eu estar em coma
Nicotina, maconha, LSD e álcool por favor

Diagnóstico de melhora não vai ter tão cedo
O sol que entra na janela não me esquenta
Magrelo, sem dentes e careca é assim que estou
O som dos pássaros cantando a marcha fúnebre
Relógio fazendo seu tic tac sempre sem parar
Rebeliões de presídios são noticias no telejornal

Eu sou o morto escritor amando morre assim
As úlceras que me matam aos poucos?
Salada de frutas quero comer quando for à sobremesa
Sua calcinha mal lavada me intoxica a mente
Impostos para pagar e um lugar no cemitério
Meus amigos nada de lágrimas de remorso

A mente brilhante que fala pra vocês não é a minha
Seus ouvidos são depósitos de dejetos anais
Único amor que senti me machucou o coração
Linda garota que me traiu com meu próprio irmão
Carta de despedida escrita com gotas de sangue
Espermatozoides e óvulos se fundindo na proveta

Reles mortais não riam dessas escrituras
Anseio um dia chegar à Academia Brasileira de Letras
Sorrir com falta de dentes me deixa triste
Queijo fungado do Mar Báltico que me alimento
Um dia perfeito da vida desgraçada que não vivi
Entidade comercial da República Dominicana vou me exilar

Miséria de cada dia do povo brasileiro morando na rua
Excelentes ricos sorrindo nas capas de revistas
Meretriz juvenil que vende seu corpo recém desvirginado
Assassinatos de balas perdidas nas ruas do país tropical
Terapia de conjuntos de Rock n’ Roll no hospício

A verdade absoluta me disse uma história
Mil novecentos e oitenta e seis tu nasceste sem dentes
A criatura que tu era virou esse morto vivo de hoje
Os meus testículos são examinados na NASA
Soldado matando pra ser herói da sua pátria
Pequeno manguito que cresce dentro da vulva encardida

Orvalho que escorre das belas flores do jardim hospitalar
Unhas dos pés são cortadas com a tesoura cirúrgica
Critérios para escolher palavras pra escrever a poesia
O minuto que cansa é o que se perde na vontade de viver
Seja o que tem que ser para tudo acontecer
? Amigos leiam no meu sepulcro uma bela despedida

Arthur Claro

Essa poesia foi criada demonstrando os últimos momentos de um poeta, não sou eu este poeta, o ponto de interrogação na última linha é de propósito, sinalizando uma pergunta antes de fazer um pedido. A imagem foi retirada do Google.

Um comentário:

  1. Uma poesia forte, mas bonita do ponto de vista da morte do poeta...
    Bjus

    http://simplesmentelilly.blogspot.com.br/

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